Deadpool

Vi poucos filmes da Marvel.

Não devo ter visto mais do que uns homens-aranha, um hulk qualquer em que ele luta contra caniches mutantes, e recordo-me qualquer coisa do ben affleck de bengala e olhos tapados a topar reacções em tribunal através do som.
Refiro-me apenas aos super heróis da Marvel. Excluo, obviamente, o esplendoroso Howard The Duck – que é uma espécie de 2ª vinda de Cristo à Terra, uma obra de uma simetria sublime, com uma fragrância que atrai sereias e uma harmonia tal, que até o mais austero dos Jorges Mourinhas ostentaria uma ereção tão massiva, que só a acalmaria se visse O Pestinha 2 umas 15 vezes seguidas…Onde é que eu ia?

Ah, sim, filmes da Marvel.

deixei-me levar pelo entusiasmo
Deixei-me levar pelo entusiasmo

Como dizia, não tenho por hábito ver filmes da Marvel. Não que seja daqueles snobes que só vêm filmes húngaros de 1934 que contemplam a condição humana. Simplesmente os poucos que vi são fórmulas pre-fabricadas desprovidas de qualquer tipo de personalidade própria. E, convenhamos, já somos vivenciados que chegue para toparmos o cheiro de uma merda destas à distância.
Há excepções, claro.
Mas não é das excepções que vou falar. É do Deadpool.

ah! ainda bem que aí estás. é melhor sentares-te...
É melhor sentares-te…

O Deadpool é um dos filmes de super herói mais inofensivos que já vi. O que, por si só, não teria mal. O problema do filme é tentar fazer-se passar por algo que não é, por um filme que quebra as regras e inova, e tem humor, e é para maiores de 13, e é divertido, e é húngaro de 1934 e contempla a condição humana. E acabei por ir ver um filme que detesto ver, por me terem prometido que ia obter algo totalmente diferente.
Seria como me convencerem a ir para uma casa de strip, e ao entrar lá, prenderem-me a uma cadeira e enfiarem-me um aspirador na boca, e quando eu me apercebesse que na realidade aquilo era uma vulgar cirurgia oral numa clínica dentária já era demasiado tarde; já me tinham aparafusado um açaime e perfurado o crânio enquanto aproveitam o facto de eu não conseguir responder para me lembrar dos fracassos da minha vida e atirar-me à cara o falhado que sou.

se calhar devia mudar de dentista
Se calhar devia mudar de dentista

O filme em si não tem assim grande coisa que se lhe diga. A maior parte dos personagens nem sequer arquétipos chega a ser.
A história é desinteressantemente básica. E quem fez o filme claramente concorda, dada a forma como tentam despachar a história o mais rapidamente possível, antes que mais alguém repare.
Ryan Reynolds era um típico mercenário mauzão que frequentava um bar de mercenários mauzões.
Um dia conhece uma ferramenta narrativa com mamas e, depois duma montagem de enfardanços sucessivos, decide casar-se com ela, mas descobre que tem cancro. Isto pode parecer que começa a ficar interessante. Só que não. Cancro e amor, talvez devido à dificuldade que a população geral terá em identificar-se com estas duas temáticas, são 2 meras ferramentas narrativas despachadas em 2 minutos de filme, como desculpa para dar ao Ryan Reynolds um bilhete só de ida para o mundo dos mutantes com super poderes.
A partir daí, o mau limpa-lhe o sebo, passam 2 ou 3 montagens de nada a acontecer, há uma cena banal de porrada e ele acaba por limpar o sebo ao mau, apesar de não ter aprendido nada desde a última vez que se tinham defrontado.

deadpool 2

E até nem começava mal. A cena de acção inicial parece-me bem delineada. Tem um ou outro artifício ou piada emprestados do Archer, tem bom ritmo, e tem as pecinhas do engenho bem delineadas – tal como o resto do filme não tem. Só que logo ali temos também o principal problema do filme: todas as cenas têm um gajo com um fato de homem aranha comprado nos chineses a saltar de um lado para o outro enquanto não pára de nos implorar para que gostemos do filme! E, deus nos livre, como o gajo é irritante – cheguei a pensar que ele tinha sido picado por um Jar Jar Bings radioactivo ou coisa que o valha.
“OLHA PARA MIM A ESPETAR UMA FACA NUM GAJO DESCARTÁVEL QUALQUER! ISTO É RATED R!”, diz ele para uma geração que supostamente – sendo maior de 18 – cresceu numa época em que o líder de um culto que rapta e escraviza crianças arrancar com as próprias mãos o coração de um pobre coitado qualquer merecia um PG13 estampado na capa. “ISTO NÃO É UM FILME DE SUPER HERÓIS! É UMA HISTÓRIA DE AMOR!” diz ele antes de saltarmos…para uma história de origem apressada, tal e qual como as histórias de amor não fazem.
E o super poder dele é inútil, as referências culturais óbvias. Porque nós já estamos tão emburrecidos com os filmes da Marvel, que já nem sequer conseguimos chegar às referências culturais por nós mesmos. Não precisamos. Temos o gajo no fato de homem-aranha-comprado-nos-chineses a soletrar-nos a referência cultural que está a fazer. Porquê ficar-nos por aí, pensei eu, porque não baixar um letreiro com luzinhas a piscar, que diz ‘RIR AGORA’ sempre que uma piada dessas é feita, com um subtítulo a dizer “tem piada porque é meta”.
Ele deve recitar o livro “101 piadas que talvez tivessem piada nos anos 50 com uma laughing track” todo do início ao fim. E a piada nunca tem qualquer tipo de relevância ou envolvimento no enredo ou nos personagens, levando-me a questionar se isto não terá sido escrito por um gajo com um tipo de Síndrome de Tourette’s extremamente peculiar.

"...um cai e o outro descasca-se a rir? Brilhante!"
“…’um amendoim cai e o outro descasca-se a rir’? Isto é brilhante!”

Há uma cena que penso que ilustra bem o que o humor do filme é e o que podia ser.
Temos uma explosão. O tempo pára e vemos o Deadpool estático a dizer para ninguém, por motivo absolutamente nenhum, e sem qualquer tipo de motivo: “deixei um tacho ao lume”. Uau. Ainda bem que paraste o filme para nos dizer essa merda. Nunca tinha ouvido essa piada na vida. Bem empregue o dinheiro em 2 argumentistas. Pena que o gajo tenha uma máscara, porque se não podia fazer aquela carinha para a câmara que os batanetes costumam fazer depois de mandar cada piadola destas.
Já na cena imediatamente a seguir, corta para uma mansão onde está um gigantesco gollem de aço à mesa a comer cereais com uma colher e a ver as notícias. E prossegue com o enredo. Não precisou de fazer caretas, não precisou de se esforçar, não precisou de se virar para a câmara e dizer que está a fazer uma piada. Basta o absurdo da situação, um gollem supostamente estaria a aterrorizar Praga, e não a comer Corn-Flakes com uma colher de sobremesa. Supostamente é algures nessa inversão de eventos em relação às expectativa reside o processo humorístico. E não num gajo a dizer-nos 500 vezes que uma determinada pessoa se chama Francis. E tenta adivinhar qual dos dois tipos de humor nunca volta a aparecer…
Para quê fazer-se tanto alarido por um R Rating, se só fazes piadas para menores de 18?

"anda ver se aprendesta alguma coisa. e despacha-te, que já deu o 2º toque"
Já deu o segundo toque, anda ver se aprendes alguma coisa

Vou ver o Howard the Duck.

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