Birdman or (How I Stopped Worrying and Love The Bomb)

Rumo aos horacios

Não sei se já alguém reparou, mas o filme chama-se Birdman Or (bla bla bla) e não Birdman (or bla bla bla). Portanto se quisermos usar o nome na sua versão abreviada, devemos correctamente chamar-lhe Birdman Or. Ou então, se traduzirmos para português, Birdman Ou.

E, já que estamos no assunto, qualquer ‘virtude da ignorância’ tem que ser, por definição, inesperada.

Contexto histórico:

Antes de falar no filme em si, considero imprescindível um enquadramento histórico de modo a compreender-se a origem deste herói antropornitológico:

Hanna Barbera

Os EUA viveram, a partir do fim dos anos 20, a chamada Era de Ouro da Animação(como referência: Dumbo, Fantasia, Droopy, Tom and Jerry, Pato Donald, Daffy Duck). Mas, tal como acontece sempre que existe uma linha temporal histórica, a Era de Ouro acabou para dar lugar a uma Idade das Trevas – à qual foi apropriadamente atribuída a designação de Idade das Trevas da Animação.

Algures nos anos 50, com a queda dos estúdios de Hollywood, a animação migrou das curtas de cinema para a televisão. O principal alvo das animações passaram a ser as crianças (estereótipo que ainda hoje perdura), e restrições de tempo e dinheiro ditaram uma predominância de animações apressadas. É aqui que a Hanna Barbera ganha terreno. Flintsones e Jetsons colocaram animação em horário nobre, enquanto as crianças – as doces e inocentes crianças – tiveram que levar com Yogi Bears, Magilla Gorillas, Scooby Doos e 1000 clones de Scooby Doo.

Nos anos 60 a Hanna Barbera decide criar a sua própria gama de super heróis repletos de clichés da era Sci-Fi dos anos 50: Hanna-Barbera’s World of Super Adventure. Tínhamos, entre outros, Shazzan, Galtar, Space Ghost e, claro, Birdman and the Galaxy Trio.

birdman hanna barbera

Birdman era um humano normal a quem Ra, deus egípcio do sol, concedeu poderes (não entra muito em detalhe). Os poderes incluem voo, lançamento de raios de sol com os punhos e a projecção de um escudo solar que o protege de balas. Mas a única coisa que as pessoas se lembram dele é o grito: “Biiiiiiiirdman!”. Graças aos seus poderes, arranjou um emprego a full time combatendo o crime para uma empresa chamada Inter-Nation Security, juntamente com Avenger, o seu falcão.

harvey birdman

Entretanto os tempos passaram e esses super heróis foram caindo na teia do desemprego. Space Ghost teve que criar o seu próprio talk show, e Birdman tirou um curso de direito e tornou-se Harvey Birdman, Attorney at Law, ganhando a vida a resolver casos para outros personagens da Hanna Barbera dos anos 60-70.

E parece-me evidente que Iñarritu nunca viu um único episódio de Birdman.

Michael Keaton

‘CAW!’

Já se sabe, este é o primeiro e principal ponto do filme.

Michael Keaton é um consagrado actor que recentemente encheu os ecrãs no aclamado The Merry Gentleman (nomeado para um Evening Standard British Film Award em 2010), e contracenou com Lindsay Lohan na adaptação de Herbie ao grande ecrã. Mas claro que o que fez Keaton ganhar um lugar nos nossos corações foi a sua magistral e revolucionária interpretação de um boneco de neve em Jack Frost, reservando para sempre um lugar no panteão dos nossos imaginários colectivos.

Para Birdman Or, Keaton decidiu tornar-se no actor de método mais dedicado do mundo e deixou-se cair propositadamente no esquecimento durante alguns anos para entrar no personagem. Uma dedicação especialmente notável, principalmente se tivermos em conta o facto de ele nem sequer saber que este filme ia ser feito quando começou a preparar-se para o papel. E desempenhou essa tarefa com tanto empenho que conseguiu que nos esquecêssemos dele, apesar dos esforços colectivos de Clooney, Kilmer e Bale para que isso não acontecesse.

Enredo

e tem mais pósteres do que frames

Birdman ou (os 120 dias de Sodoma) é sobre um gajo que tem os poderes de telecinese e de levitação, mas quer ser reconhecido pelo seu talento em palco. Isto parece ser sobre pessoas que poderiam dar algo de útil ao mundo, mas estragam o seu próprio potencial iludindo-se na perseguição de sonhos impossíveis e, em última análise, inúteis.

Mas não.

Por algum motivo, fizeram isto ao contrário. É a criticar a gente do “showbiz”. É um filme que segue pessoas que conseguiram arranjar maneira de sacar guita a gente que quer fazer-se passar por culta, de modo a não terem que ter um trabalho a sério. E em Birdman ou (a inesperada ignomínia de toda a gente considerar este filme uma espécie de anunciada descida de Deus à terra) está toda a gente demasiado concentrada nos seus próprios excessos hedonistas e por vezes sociopatas para alguém chamar Riggan à atenção. Aliás, ‘toda a gente’, não. Há um personagem que possui o dom da percepção da oscilação da balança do bom senso. E que personagem é esse? Um peru gigante! Nem o Baz Luhrman seria capaz de algo tão burlescamente desenquadrado com a realidade.

Pelo meio a câmara vai cambaleando de um lado para o outro, muito ao estilo do Alien 3. E fá-lo para ir mostrando o elenco a agir de forma promíscua e moralmente duvidosa, para nos fazer sentir inveja, a nós meros plebeus que temos que nos esfolar para ganhar dinheiro de modo a pagarmos-lhes a cocaína.

Análise

autor: Eilidh Reid

Não dá para entender o que há para gostar neste filme:

Para comédia tem uma só piada (a de actores fazerem caricaturas deles mesmos) que deixa de ter piada ao fim de menos de 5 minutos, é jocoso demais para ser um drama, em termos de acção só tem uma explosão, não tem tensão romântica, a luxúria que tem não chega para erotismo, nem há sexo que chegue para pornografia, e mesmo pelos padrões de filmes de super herói, não me parece que o heroísmo de um “homem-pardal” se sustente a si mesmo…..resumindo, fica numa espécie de limbo estilístico sem ferramentas narrativas que justifiquem um estilo próprio.

A banda sonora nem sequer tem melodia, é só um gajo a tocar ritmos aleatórios na bateria; pagaram a um gajo para editar um filme que nem sequer tem cortes; na fotografia temos um profissional respeitado a fazer um plano sequência evidentemente fraudulento; as personagens são caricaturas cliché que servem para dar dinheiro ao elenco, de modo a consumirem mais cocaína em duas semanas do que alguns países de 3º mundo consomem pão durante um ano; o filme não tem história, limitando-se a bajular-se com a altivez de gozar com quem tenta ser culto (como é o caso deles, aparentemente).

E ainda por cima tem uma personagem que é um crítico que diz mal das obras só por dizer, que sabe de antemão que vai dizer mal de uma obra, e tenta ver defeitos em tudo, ignorando tudo de bom que lhe possa aparecer à frente. Desde quando é que existe alguém assim tão estúpido, tão imbecilmente enclausurado nas suas próprias frustrações artísticas para ter que descarregar o seu ódio nas obras dos outros, sem ter sequer a capacidade de perceber os seus próprios vícios quando eles estão nem a um palmo do seu nariz? Em que parte do mundo é que o Iñarritu foi desencantar este raro mamífero que em vez de aproveitar o ar fresco e os verdejantes campos que a natureza nos deu, fica em casa a escrever mal sobre trabalhos que, lá no fundo, reconhecem que lhes agradaram profundamente e que lhes deu um prazer revigorante viajarem durante hora e meia? Que sentido faz haver alguém que observe uma forma de arte qualquer apenas para tentar destruí-la na mesquinhez das suas inúteis palavras que nada farão para alterar para melhor ou pior a qualidade da obra, e cuja única contribuição real que vão ter num plano global será o consumo desnecessário de oxigénio valioso? É ultrajante!

Enfim, ficamos todos à espera para ver o Birdman 2, com Val Kilmer.

Mas, como sabem, eu sou um coração mole, que gosta de tentar ver coisas positivas em tudo. E, tenho que confessar que, na sua ignorância, Iñarritu conseguiu algo virtuoso:
Uma homenagem ao Giant Claw.

giant claw 1Giant Claw 2Birdman Giant Bird

FACTOR OSCARBAÇÃO: 2

oscarbaçao 2

  1. actor caído na obscuridade regressa à ribalta
  2. retrata o showbusiness

ÓSCAR QUE DEVIA RECEBER:

O de melhor edição para o qual nem sequer foi nomeado, cambada de selvagens sem escrúpulos!

 

Link para o artigo original:

ESPECIAL RUMO AOS HORÁCIOS #2: Birdman Or (How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb)

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